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  • Ana Paula Peron

A raiva é só a febre!

Ganhei de presente há alguns dias um pequeno livro que já considero LEITURA OBRIGATÓRIA para quem se interessa em entender suas próprias relações: “O surpreendente propósito da raiva”, de Marshall Rosenberg, editado pela Palas Athena. Li de uma só vez suas poderosas 61 páginas – é um pocket de um livro do mesmo autor, “Vivendo a comunicação não violenta”, publicado pela Sextante.


O que encontrei de tão maravilhoso nele? NÃO FOI NELE, MAS EM MIM!!!


Vivi uma situação de grande impacto neste final de ano e passei as Festas consumida por um sentimento pesado, que dificultou o meu aproveitamento pleno das delícias e dádivas dos encontros com minha família e meus amigos. Eu reconhecia o sentimento de raiva em mim.


Refleti muito nesse período complicado, decidida, claro, a não permitir que a agressividade ou a violência eclodissem contra “o outro”. Afinal, eu QUERO SER A PESSOA QUE FOCALIZO SER nos workshops e artigos sobre Comunicação Não Violenta e Transformação de Conflitos.


E consegui!!! Eu não engoli ou oprimi meus sentimentos. Eu dancei com eles, até que aprendesse algo sobre mim mesma... E, quando comecei a ler o livro, na tarde do último domingo, foi COMO UM BÁLSAMO EXPLICANDO, para a mim, o que o meu coração já estava digerindo há dias.


1ª Grande Lição: somente dentro de mim encontro o remédio para a minha raiva. Ou seja, os meus pensamentos e julgamentos sobre o que me acontece podem incendiar e amplificar (ou não) a minha raiva. E ESSES PENSAMENTOS E JULGAMENTOS SOBRE OS FATOS NÃO SÃO OS FATOS.

Lembrando daqueles dias que mencionei acima, sei que fiz julgamentos e críticas e falei muitas coisas sobre O QUANTO EU ERA A VÍTIMA, BOA E “O OUTRO”, O ALGOZ, MAU.


2ª Grande Lição: o estímulo (ou o gatilho) para a raiva não é o que causa este sentimento. GATILHO E CAUSA SÃO COISAS DIFERENTES. Para eu poder exemplificar, vamos imaginar que o meu problema fosse com você, OK?


Continuando: Você não fez o que eu esperava, inclusive, aquilo que estava acordado entre nós. Então, começo a dizer que você é irresponsável, egoísta, não me ama, não se importa comigo, não merece minha confiança, etc. Em poucos minutos, o meu mal estar já virou uma gigantesca cratera entre nós: eu estou certa e você, totalmente, errado(a). Passo, então, a imputar culpa, maldade e erro nas suas ações. E, se compreendo sua ação como rejeição, posso ficar triste, magoada... Mas por que sentir raiva?


Seguindo as recomendações de Rosenberg, eu deveria dizer: “Eu estou com raiva porque estou dizendo a mim mesma que não sou respeitada nem considerada.” Os fatos são os fatos. Culpar o outro, acusar o outro, julgar o outro não mudará os fatos, ou seja, você não ter feito o que eu esperava.


3ª Grande Lição: ao invés de me conectar com meus sentimentos e necessidades, coloquei minha inteligência para julgar o que há de errado em você e culpei você pelos meus sentimentos, me desconectando totalmente da nossa relação, aumentando ainda mais as chances de não nos entendermos mais.


O que eu, de fato, precisaria reconhecer é o seguinte: ao não cumprir o acordo naquele momento, VOCÊ DISSE “NÃO” PARA MIM PARA PODER DIZER “SIM” A SI MESMO(A). Isto, sim, é um fato. Eu posso sentir tristeza ou decepção, porque tinha uma necessidade de afeto e consideração. Mas não preciso alimentar a minha raiva, que me desconecta e afasta totalmente de você.


Se eu quiser me conectar com você, é ideal que eu, primeiro, compreenda os seus motivos e a sua escolha. Depois, posso te convidar a compreender como me senti vulnerável, triste e magoada.


Um desafio diário, para todos nós, que celebro hoje, pois, voltando à questão do início do texto, quando consegui me expressar diante daquela situação, me senti muito mais fortalecida.


A DICA, então, é: diga “Eu sinto isto PORQUE EU (...)”, ao invés de “Eu sinto isto PORQUE VOCÊ (...)”. Expressar plenamente a raiva significa concentrar toda a consciência na necessidade não atendida e não em culpar e julgar o outro.


Como eu disse, A RAIVA É UM SENTIMENTO VALIOSO, como uma febre alertando para algo que não está indo bem dentro de mim.

Lapidar, um caminho precioso para relações mais saudáveis e sustentáveis.



Por Ana Paula Peron


Especialista em apoiar pessoas e organizações na construção de relações mais saudáveis e sustentáveis, a partir de processos mediativos

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